quinta-feira, 28 de março de 2013

TRUQUES TORNAM O ESPETÁCULO MAIS REAL NAS SUAS APRESENTAÇÕES


A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, encenada em Fazenda Nova, distrito da cidade deBrejo da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco, é conhecida por sua grandiosidade. Os nove palcos distribuídos pelos cem mil metros quadrados da cidade-teatro e as 70 torres de pedra que se espalham nesse espaço são apenas uma parte do que faz a peça ser conhecida em todo o país. O cuidado com a iluminação e os pequenos truques para dar veracidade às cenas encantam e envolvem o público, ajudando a diminuir a distância entre a encenação e a crença.
Boa parte das sensações são dadas pela iluminação, explica o diretor Lúcio Lombardi. “A mágica está aí. Precisa do truque, a luz bem cuidada e realista. Você pode observar que apenas nas cenas do demônio é que usamos uma luz mais avermelhada, para dar a sensação do delírio mesmo”, conta Lúcio.
Atualmente, o responsável pela equipe iluminação é Cristiano Paes, que trabalha em uma empresa de São Paulo. “A gente traz muito equipamento de São Paulo, são entre 800 a 900 refletores. Quando cheguei aqui pela primeira vez, me impressionou, senti o desafio que tinha, com certeza. Já existia um plano de iluminação, o que coube a nós foi tentar melhorar o que já existia”, explica Paes.
Quando demonio entra em cena, a iluminacao ajuda a transmitir o clima de tentação. (Foto: Luka Santos / G1)
Pequenos detalhes, conta o técnico paulista, fazem toda a diferença no espetáculo. Na primeira cena, em que as luzes são apagadas e ficam focadas apenas nos profetas, há a sensação de que eles estão flutuando ou nas nuvens de fato. Ou ainda: na cena em que o anjo surge para dizer a Maria Madalena que Jesus vive. “Muita coisa é efeito de luz, de você tirar [a iluminação] de cima e pôr embaixo, por exemplo”, afirma Paes.
Enquanto na cena do bacanal de Herodes as cores ajudam a trazer a alegria da festa, em outras a iluminação foi pensada para mostrar a dualidade do personagem. “Às vezes, uma coisa besta dá outro sentido à cena. A cena da consciência, em que Judas debate o que fez [ao entregar Jesus], nós criamos um efeito para que ele entre e saia da luz”, exemplifica o técnico.
Magia
Quando a luz não resolve, fica completamente com os atores o trabalho de convencer o público. O ator Ednaldo Lucena foi mágico profissional durante muitos anos e, quando interpretava o traidor Judas Iscariotes, buscava trazer realismo à cena do enforcamento. “Antigamente, a gente não tinha uma árvore fixa, tinha que buscar no mato uma que se adequasse, que tivesse o galho certo”, lembra Ednaldo, que chegou a sofrer dois acidentes interpretando Judas.
Junto com Octávio Catanho, responsável pelos efeitos especiais e maquinarias do espetáculo, Ednaldo conseguiu bolar a atual árvore. “Eu até brinquei que eles esperaram eu sair do papel para enfim fazerem como a gente tinha projetado. A última vez que fiz Judas foi em 1997, depois passei tudo o que sabia para Júlio”, conta Ednaldo.
Colete é onde gancho fica engatado, dando a sensação para o público que ator realmente foi enforcado (Foto: Luka Santos / G1)
O ator Júlio Rocha, há 18 anos na Paixão de Nova Jerusalém, conta que, apesar dos avanços, ainda é tenso fazer o papel de Judas. Nesse período, em sete temporadas ele interpretou o traidor de Jesus. “Esse é um dos momentos mais tensos da peça, são três contrarregras que ficam ali para auxiliar. Tem que ser tudo muito bem cuidado, para que o público não perceba, é tenso para todo mundo”, explica Júlio.
Olhando de longe, a corda parece de fato envolver o pescoço de Judas, mas enforcamento não é exatamente o risco que o ator corre. “Eu fico com um colete. Ali fica um cabo de aço, que precisa estar com o gancho para baixo, já na posição para eu engatar no colete. Isso é um trabalho grande de equipe, porque se não estiver na posição exata ou se o cabo de aço não estiver solto o suficiente para parecer uma corda, fica falso”, detalha o ator.
Tudo acontece em alguns poucos instantes. A iluminação e o gelo seco ajudam a criar o clima do enforcamento, enquanto o ator se prepara para dar o salto ‘para a morte’. “São de três a quatro metros de altura, você cai em uns colchões logo abaixo. Só que tem que tomar cuidado, qualquer erro, você cai no cenário. Em 2006, eu tive um acidente. O cabo de aço partiu e eu machuquei um pouco a perna na queda”, recorda Julio.
Por trás, é possível ver que parte do cenário é falso e maquinário ajuda a criar truques. (Foto: Luka Santos / G1)
Na cena em que a 'consciência' de Judas o atormenta e 'flutua' também há sinal da maquinaria em ação. Na ascensão de Jesus, uma plataforma, encoberta por gelo seco, também faz com que as pessoas imaginem que o ator está alçando voo aos céus.
Cruz
Na hora em que Jesus é pregado na cruz, sons de metal e gritos ecoam. “Na verdade, tem realmente um metal ali e eles martelam, mas não é no ator, claro. Teve uma vez, quando ainda fazíamos a Paixão pelas ruas aqui de Fazenda Nova, que o figurante acertou foi o pé mesmo. Naquela época, o público ficava ainda mais perto. Acabou que outra pessoa entregou que o cara tinha errado e quebrou um pouco o clima”, lembra, divertido, Ednaldo.
Outro truque está no uso dos cravos que pregam Jesus na cruz, explica Ednaldo. Da platéia, os cravos parecem realmente ir fundo na carne. “Ele na verdade está se segurando ali. O cravo é de mentira, claro”, conta.
Sangue fictício e truques de ótica dão a sensação de que Jesus está realmente pregado e sangrando. (Foto: Luka Santos / G1)
A maquiagem é também um ponto à parte nas cenas cruciais, seja na da adúltera, que chega com um machucado no rosto, seja quando Jesus é chicoteado. Quem olha, vê a pele das costas em carne viva, os espinhos furando a pele, mas tudo não passa de um truque com sangue de mentira. “É uma peça que mistura os efeitos de televisão, cinema, rádio e também teatro”, simplifica Ednald

Sonoplastia
Assim como um filme sem música perde parte de sua alma, o teatro também precisa de todo o cuidado com os sons que o compõem. Resumindo seu papel a ‘o cara que coloca música’, Hugo Martins tenta simplificar sua participação, embora seja ele o responsável por envolver também o público através de músicas que tragam a emoção do momento e também por usar os sons certos nas cenas corretas.
O cuidado com a sonoplastia da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém cabe a Martins desde 1970. “Eu fiquei maravilhado quando cheguei aqui. Se chegasse hoje, ficaria ainda mais. Entregaram a peça na minha mão. A primeira coisa que fiz foi procurar um tema para Jesus, seguindo a linha de Richard Wagner, também utilizada no cinema, de um tema para cada personagem”, conta Martins.
Pesquisando temas de filmes, o sonoplasta foi conseguindo chegar a todos os personagens, exceto um: Judas Iscariotes. “Em trilhas de filme, eu não consegui encontrar nada, então fui para a música clássica e pensei logo em Tchaikovsky. Muita gente vai dizer que ele é romântico, e realmente a maior parte da obra dele é, mas tem uma, ‘Francesca da Rimini’, que ele compôs inspirando no quinto canto da Divina Comédia, de Dante Alighieri, que fala do Inferno. Caiu perfeitamente”, explica o sonoplasta.
Hugo Martins é o responsável pela sonoplastia da Paixão de Cristo desde 1970. (Foto: Luka Santos / G1)

Texto e imagens retirados do site G1.
Também compositor e um apaixonado assumido pelo tempo das radionovelas, Martins ressalta que a música é essencial a qualquer espetáculo. “Se você tentar ver um filme sem a música, vai entender. Cada compositor tem sua marca e essa marca a gente identifica de longe. Conhecer isso faz a diferença na hora de trabalhar a sonoplastia de um espetáculo”, defende




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