sábado, 30 de março de 2013

Paixão de Fazenda Nova, PE, investe em figurinos cada vez mais reais


Peças romanas foram feitas por artesão especializado em fazer gibão de couro. (Foto: Luka Santos / G1)


Assistir à Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, encenada na cidade-teatro em Fazenda Nova, no Brejo da Madre de Deus, Agreste de Pernambuco, é uma viagem no tempo. Os nove palcos espalhados em uma área de cem mil metros quadrados, a música e o elenco  são parte da magia do local, que é complementada pelos figurinos, que também auxiliam nessa missão: renovados neste ano, as mudanças nas roupas podem ser vistas em cenas como a do Fórum de Jerusalém.
As peças desse ano são assinadas por Marina Pacheco e Vitor Moreira. “É um trabalho de nós dois, ele já cuida há muitos anos do figurino, é um senhor de 79 anos. Estou aprendendo muito com ele, me conforta de tê-lo para me orientar, esse é o meu primeiro ano. Fizemos as prioridades apontadas pela direção, como a cena de Pilatos, por trazer a novidade dos cavalos”, explica Marina. Na montagem deste ano, os animais são da raça puro sangue lusitano.
A preparação para a encenação deste ano teve início ainda em agosto de 2012, com um estudo do que poderia ser aproveitado e do que precisava, com mais urgência, ser modificado no figurino. Então, começou a pesquisa em livros, filmes e até mesmo em uma viagem à Europa. “Visitamos museus, galerias. A gente pode criar até certo ponto, apenas. É preciso saber o que preservar, o que mudar para ficar mais realista”, detalha a figurinista.
Jóia utilizada por Caifás é feita a partir de estudo biblíco e representa as doze tribos de Israel. (Foto: Luka Santos / G1)
Uma das cenas que passou por alteração foi a do Sinédrio, em que os sacerdotes se reúnem no templo de Jerusalém. “Não havia unidade nas roupas, por isso precisamos mudar. Porém, há coisas que são pesquisas bíblicas e não podemos mudar, como a jóia utilizada por Caifás. Você pode observar, são doze pedras diferentes, que representam as doze tribos de Israel”, conta Marina. As pedras são sardio, topázio, carbúnculo, esmeralda, safira, diamante, jacinto, ágata, ametista, berilo, ônix e jaspe.

As roupas dos sacerdotes, que parecem pesadas, utilizam truques de figurino para dar a sensação de que são várias roupas utilizadas umas sobre as outras. “A gente usa mangas sobrepostas para dar essa sensação de várias roupas”, conta Marina, que fez uma pesquisa também sobre tecidos e detalhes das roupas em livros antigos.
Roma
Uma das cenas pedidas pelos diretores para ter o figurino alterado que mais animou a figurinista foi a dos romanos. “Eu sempre gostei muito da história de Roma. Fui lá, visitei museus, o Vaticano, trouxe até um elmo para servir como base para podermos reproduzir aqui. Você aprende o porquê de cada coisa. Por exemplo, a presença da águia. Eles acreditavam que só estariam seguros se tivessem o estandarte da águia com eles. Se fosse perdido ou roubado, o exército perdia o controle”, explica Marina.
Figurino romano está mais próximo do utilizado na época. (Foto: Luka Santos / G1)
Uma das alterações mais simples foi a cor da roupa por debaixo das armaduras romanas. “A gente tirou o branco porque não era comum. Só quem usava eram pessoas muito ricas, senadores, não soldados. Trocamos pelas cores mais fiéis possíveis”, detalha Marina, que teve ainda um segundo desafio: encontrar quem fizesse as couraças das roupas romanas efetivamente em couro. “Saí procurando pela região um artesão que trabalhasse com couro e aceitasse o desafio”, lembra.
Um único senhor, conhecido apenas como ‘seu Cosme’, aceitou a missão. “Ele é muito humilde, foi maravilhoso. Ele faz gibão de couro. Usamos de seis a oito peles de boi inteiras para fazer as couraças. Deixei uma pessoa da equipe no começo com ele, mas quanto mais próximo do prazo estávamos, colocávamos mais gente para dar apoio”, conta Marina.
A missão não foi fácil. A equipe formada por dez pessoas, todas da região de Fazenda Nova, cuidou da confecção das roupas de romanos, do rei Herodes, de Herodíades e de algumas outras que foram alteradas. O trabalho começou em dezembro e, em janeiro, às vésperas da gravação do filme comercial, a rotina de trabalho foi ainda mais intensa. “Teve dia de ficarmos trabalhando até três horas da manhã para estar tudo pronto”, recorda.

Ainda assim, a cada espetáculo ela observa o que precisa ser alterado e o que está funcionando bem. "Eu percorro todo o teatro, cada cenário tem um camarim próprio. Se estiver faltando algo, a gente corre para buscar. Quando a cena acontece e vejo que deu tudo certo, sinto um alívio enorme", conta Marina.
Livro comprado em viagem pela Europa serviu como base para roupas romanas. (Foto: Luka Santos / G1)
Cores
Outra preocupação dos figurinistas foi em relação às cores e texturas dos tecidos. “Os tecidos mais finos e as cores mais alegres eram dos ricos. A roupa do rei Herodes mesmo já foi revista. Eu sempre quis usar penas de pavão para uma das mulheres do bacanal. Vendo Sansão e Dalila, aquele filme mais antigo, tem uma roupa com penas de pavão. Serviu como inspiração para a roupa da Herodíades”, explica Marina.
As jóias utilizadas por três das mulheres que participam também da cena do bacanal, tentando Jesus ou interagindo com o rei, chamam a atenção e não é à toa. “São de verdade, a gente trouxe da Índia. Ainda é um sonho futuro poder fazer uma viagem para trazer mais materiais de fora para o figurino. Queremos reformar o bacanal de Herodes, estamos estudando”, adianta.
Rei Herodes, vivido por Marcos Pasquim, também ganhou figurino novo para esse ano. (Foto: Luka Santos / G1)
O cabelo e a maquiagem das mulheres da bacanal também foram todos pesquisados cuidadosamente. “Naquela época, se utilizava muito cachos e tranças. Cabelo dividido em três e trançado, cachos mais apertadinhos”, conta Marina, que tem como referência a série norte-americana ‘Roma’, exibida em um canal por assinatura entre 2005 e 2007.
Lembrando que todo e qualquer figurino é importante, o cuidado passou também pela roupa dos figurantes. “Você pode ver que são cores terrosas. Usamos tecidos como algodão, quase estopa mesmo e passamos as roupas por um processo de envelhecimento, para dar o tom mais real possível”, detalha a figurinista.

Texto e imagens retirado do site G1

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